sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Plataforma Gueto

Irm@s

Quase duas semanas passadas da morte de Kuku, o relatório pericial vem revelar que ele foi morto à queima-roupa confirmando o que vários testemunhos excluídos da versão “oficial” divulgada pelos media já faziam suspeitar.

Este facto só veio reforçar a nossa convicção de que devemos continuar a denunciar e exigir que se faça justiça neste caso, visto que, o nosso silêncio em casos anteriores como os de Angoi, Tony, PTB, Tete, Corvo, etc., deixam pairar um clima de impunidade face a tamanhas violações dos direitos humanos e motivam um comportamento desumano por parte de vários agentes policiais.
Assim a nossa motivação não é apelar à violência mas sim à justiça como uma condição essencial para a paz social.

Posto isto continuamos a apelar à mobilização de todas as pessoas e organizações solidárias frente à 60ª A Esquadra na rua 17 de Setembro no Casal de São Brás, BOBA, amanha sábado às 16 h, com o único intuito de mostrar o nosso descontentamento face à forma como a polícia tem actuado nos bairros, junto dos jovens imigrantes, e de solidarizar com a família de Kuku na sua procura por justiça, não deixando que este caso caia no esquecimento como os anteriores.

Relativamente à propaganda que os media já começaram a orquestrar contra a Plataforma Gueto, nomeadamente no Diário de Notícias e na TVI, cabe-nos apenas esclarecer que lutar pelos direitos da nossa comunidade inscritos na constituição deste país e na Carta Universal dos Direitos Humanos, não é extremismo nem um apelo à violência contra o estado, mas sim um exercício de cidadania.

Por outro lado a forma como Kuku morreu representa um das formas mais extremas de violência que o estado exerce sobre os jovens negros, ciganos e brancos pobres.

A plataforma gueto é um movimento social constituído por um grupo de jovens oriundos de vários bairros e de diferentes origens que visa consciencializar e mobilizar a nossa comunidade em relação:

• À exploração e precarização laboral;

• À educação etnocêntrica que impacta na auto-estima de jovens com culturas diferentes e acentua as desigualdades;

• Às politicas de habitação que promovem a segregação espacial e a estigmatização das zonas onde habitamos;

• À estigmatização e criminalização da dita “2ª geração” e dos imigrantes em geral que tem servido para: por um lado, legitimar a brutalidade policial na nossa comunidade, e por outro criar e manipular uma opinião pública adversa;

• Todas as formas de exploração e discriminação.

Plataforma Gueto. Sem Justiça não haverá Paz.

Plataforma.gueto@gmail.com

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

9 dias depois

Passaram-se nove dias sobre o assassinato do Kuku, sem que as autoridades mostrem qualquer sinal de querer revelar a verdade.

Kuku foi enterrado no passado sábado e com ele todos esperam que seja enterrado mais um crime violento cometido pela polícia racista, com a cumplicidade dos media e todos @s que ficaram silenciosos perante o renascimento da pena de morte em Portugal.

Gerou-se um movimento de solidariedade à família de Kuku através da venda de CD’s, T-Shirts e donativos que têm ajudado a suportar algumas despesas.

Nos próximos dias 24 e 31 de Janeiro (sábado), pelas 20h,no Centro de Cultura Libertária, irão realizar-se dois jantares para o mesmo efeito.


No entanto, mais que demonstrar solidariedade, é preciso exigir justiça.
Lutar por ela. Não queremos deixar que esta execução caia no esquecimento como o caso do Angói, Tony, PTB, Tete, Corvo, etc.

Até os maiores criminosos , o que não era o caso de Kuku, (ao contrário do que propagandearam os média racistas), têm direito a um julgamento no tribunal, mesmo sabendo que este também não é sinónimo de justiça. Mas em Portugal a justiça é cada vez mais um privilégio dos ricos. Para os pobres negros, ciganos, brancos, as autoridades reservam execuções sumárias feitas nas ruas, nas viaturas e esquadras de polícia.

De Paris a Atenas, a São Francisco (onde no dia 1 de Janeiro a polícia assassinou um jovem negro de 22 anos), à Amadora, está a acontecer por todo o lado. Qual será o próximo bairro? O meu? O teu? Quem será o próximo? Eu? Tu?


Basta. Dia 17 de Janeiro, Sábado, às 16h, vem protestar contra a brutalidade policial. Contra a violência do estado. Vem exigir justiça.
Concentração em frente à 60ª Esquadra, na rua 17 de Setembro no Casal da Boba.

Apelamos a tod@s @s irm@s, tropas, guetos e organizações solidárias que se juntem nesta jornada duma luta que é de tod@s e que esteve calada muito tempo.





Plataforma Gueto. Sem Justiça não haverá Paz.

Plataforma.gueto@gmail.com


sábado, 10 de janeiro de 2009

KUKU

Mais um jovem negro e pobre assassinado pela polícia.

A plataforma Gueto não pode deixar de denunciar mais uma execução sumária, com pena de morte, dum jovem negro por parte da polícia, e um julgamento injusto feito no tribunal dos media, que condenou o nosso irmão e absolveu mais um assassino.

Uma perseguição policial do passado domingo, 4 de Janeiro às 21h, ditou a morte de Kuku, com apenas 14 anos.

Segundo a versão "oficial" de fontes policiais os agentes identificaram o carro furtado, onde seguiam 5 jovens, no bairro de Santa Filomena. Por não terem respeitado a ordem para parar, a polícia iniciou uma perseguição que só acabou no bairro da Quinta da Lage quando os jovens abandonaram o carro e continuaram a fuga a pé. Depois de terem disparado tiros para o ar, a polícia alega que Kuku, que foi o último a sair da viatura, apontou uma arma de calibre 6.35 a um agente, tendo este, em legítima defesa, disparado um tiro que o feriu mortalmente na cabeça. Outro irmão foi ainda atingido com uma bala na perna.

Ainda na sua versão oficial a polícia declara que o agente não atirou para matar. Quem não quer matar não aponta uma arma à cabeça, portanto a intenção do agente era matar ou teria apontado a outra parte do corpo.

Na manhã seguinte os media iniciaram a sua propaganda, usando apenas as fontes policiais, para sujar a imagem do jovem e legitimar a acção do polícia, alegando que se tratava de um jovem referenciado por crimes violentos.

Com esta propaganda os media conseguiram transmitir a ideia de se tratar dum jovem violento que era uma ameaça para os agentes, e para a sociedade, bem como glorificar a polícia por mais uma "missão cumprida": assassinar um negro.

Como se não bastasse a idade de Kuku, 14 anos, para que este não pudesse ser considerado um criminoso violento, o mesmo foi referenciado como tal apenas por furtos, dos quais não resultou nenhuma condenação. Ainda que tal tivesse acontecido, em nenhum dos casos houve uso de violência. Tendo em conta aquilo os media têm propagandeado nos últimos meses como "criminalidade violenta" só prova que esta usa e abusa de tais critérios sem nenhum rigor para operar a sua propaganda racista e continuar a fomentar o medo dos imigrantes seus descendentes na opinião publica.

Segundo os jovens envolvidos na fuga, o carro em que seguiam já tinha sido furtado anteriormente, tendo estes, sabendo que estava abandonado, aproveitado o facto para nele se dirigirem ao bairro de Santa Filomena onde iam ver um jogo de futebol. Os mesmos disseram ainda que Kuku não trazia nenhuma arma consigo.

Tal como os restantes ocupantes do carro, vários amigos que estiveram com Kuku naquele dia, negam tê-lo visto com qualquer arma, e acrescentam ainda que nunca viram Kuku armado quer com faca, quer com pistola, e duvidam bastante que ele fosse capaz de apontar uma arma a outra pessoa e muito menos a um agente "Kuku era um puto.. ainda que tivesse uma arma, jamais a apontaria a um bófia". Eles descrevem-no como "calado, tranquilo, talvez até um pouco tímido".

Estes afirmam ainda que Kuku estava marcado desde um episódio em que, logo após acordar, e tendo dormido em casa, foi abordado pela polícia na sua porta, alegadamente por ter sido visto a conduzir um carro roubado nessa madrugada. Indignado negou qualquer relacionamento com o que quer que fosse que tivesse ocorrido naquela madrugada e ao ser agredido e arrastado pelo chão Kuku resistiu à detenção apelando aos seus direitos. A sua resistência originou ainda mais agressividade da polícia. Kuku tentou resistir e só a intervenção da mãe e outros familiares demoveu os agentes de quaisquer que fossem as suas intenções.


Kuku foi julgado e executado pela polícia à semelhança de Angoi, Tony, Tete, Corvo, PTB, etc. Nos últimos meses vários irmãos foram perseguidos e agredidos nas ruas, nas carrinhas e dentro das esquadras. Este não foi um acidente, nem um acto isolado, foi o desfecho que já esperávamos. Destes assassinatos e agressões nunca resultou uma única condenação. Pelo contrário a polícia têm sido aplaudida pelo Ministro da Administração Interna e pela opinião pública manipulada, pela propaganda racista dos media. Resta uma conclusão: face a esta impunidade a polícia tem "luz verde" para matar jovens negros em Portugal. Já não acreditávamos que fosse feita qualquer justiça nos tribunais mas agora sabemos mais que isso.

Num país que nem aplica a pena de morte, até um "criminoso violento" teria direito a um julgamento antes de ser executada qualquer pena. Mas para nós negros, a pena de morte está em vigor e a "justiça" não é lenta, é veloz feita na hora pela polícia. O nosso julgamento é feito todos os dias na imprensa matinal e no noticiário das oito.

Apelamos à mobilização de tod@s os irm@s contra a violência policial, a propaganda racista e contra a opressão autoritária. Se a impunidade, o conformismo e o silêncio continuarem os assassinatos continuarão também.


Apelamos também ao apoio à realização dum funeral digno para Kuku na compra do Cd dos Mentis Afro, de uma T-shirt do Kuku, ou através de donativo para o

NIB 0018 0000 40050762 0011 0

Para mais info escrevam para o mail indicado em baixo.


Plataforma Gueto. Sem Justiça não haverá Paz.

Plataforma.gueto@gmail.com